O uso da internet e o seu papel na promoção da democracia foi um dos temas abordados nesta quinta-feira (20/08) no VII Congresso Brasileiro de Direito Eleitoral. O debate foi mediado pelo coordenador científico do Congresso, Diogo Rais, e contou com a participação dos advogados Francisco Brito Cruz e Paula Bernadelli e também da servidora do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Minas Gerais Lara Ferreira.
“Há 15 anos as pessoas eram otimistas e achavam que a tecnologia era um fator determinante para salvar a democracia, hoje achamos que ela vai destruí-la”, disse Cruz. Para ele, a inclusão digital mudou radicalmente a forma de consumir a informação e esse aspecto, somado ao contexto político e social de hoje, possibilita uma autocomunicação em massa. “Agora todos têm a possibilidade ter sua voz ouvida por muitas pessoas”, afirmou o advogado. Para ele, o efeito nefasto da tecnologia na democracia é uma coincidência. “Será que a internet nos usa ou nós que usamos a internet?”, questionou. Cruz pontuou que a tecnologia é ambivalente e apropriada pela sociedade. “Não sabíamos como a crise política iria se traduzir nas redes sociais nem como as discussões políticas calibrariam as redes sociais”, observou.
Democracia e tecnologia
Lara falou sobre como a tecnologia pode minar a representatividade democrática em razão do grande número de brasileiros longe da alfabetização digital. “Se caminharmos por uma democracia que funcione pela tecnologia, estaremos deixando ainda mais para trás camadas populacionais que já estão vulneráveis”, afirmou. Ela explicou que compreender essa exclusão é importante. Em sua visão, o analfabetismo digital é acompanhado pelas exclusões social, econômica e geográfica, uma questão que deve ser levada em consideração no caso de implementação do voto eletrônico. “Quando falamos no processo eletrônico de votação a ser aperfeiçoado é preciso pensar que a montagem da estrutura deve ser uma iniciativa de Estado e não suportada pelo eleitor”, defendeu.
Para Paula, além das discussões políticas e do debate sobre inclusão digital, temos que tratar do tipo de internet e de quais interações queremos ter. “Uma sociedade mais democrática depende de escolhas conscientes”, alertou. A advogada ressaltou que quando o critério é a aprovação, o conteúdo se torna apenas o que nos agrada e o que não afronta nossos medos. “É um modelo construído que tem se mostrado prejudicial para a democracia”, concluiu.