O futuro das democracias representativas no Brasil e nas Américas esteve em pauta no Conexão Internacional, na tarde desta sexta-feira (3/6), no VIII Congresso Brasileiro de Direito Eleitoral. Com curadoria da Transparência Eleitoral Brasil, a especialista em direito constitucional Ana Claudia Santano ouviu o cientista político espanhol Manuel Alcántara Sáez e o acadêmico mexicano Lorenzo Córdova Vianello, que é Diretor do Instituto Nacional Eleitoral do México.
Segundo os conferencistas, há um denominador comum no surgimento das tensões e conflitos que afligem as democracias representativas nas Américas: o aparecimento de candidatos personagens sem um projeto político claro e robusto, sem equipes de governo, que chegam ao poder com ampla participação das redes sociais e passam a questionar as instituições democráticas e o processo eleitoral.
O cientista político espanhol Manuel Alcántara Sáez citou o exemplo da Costa Rica e da Colômbia. Segundo ele, o candidato colombiano com chances de chegar ao poder no país não participou de debates presenciais com seus opositores, ou seja, toda a sua comunicação com eleitores se deu no ambiente digital. Isso evidencia, de acordo com Sáez, o protagonismo exacerbado que as mídias digitais assumiram no cenário democrático e eleitoral.
“A sociedade digital não aguenta mais a forma clássica de fazer política”, afirmou Sáez.
Para Lorenzo Córdova Vianello, que é Diretor do Instituto Nacional Eleitoral do México, o mal-estar coletivo dos países com o aumento da desigualdade social, dos problemas econômicos, da miséria, falta de emprego e violência exacerbada justificam o descontentamento das suas populações. É neste contexto, segundo Sáez, que surgem esses candidatos que têm grande capacidade de comunicação, conseguem entender as preferências da população e manipulá-las a favor dos seus projetos.
Vianello acrescenta ainda que a pandemia agravou um cenário que já era problemático, não apenas na dimensão sanitária, mas especialmente na dimensão econômica e social, aumentando o descontentamento das populações. Somado a isso, ele mencionou o aumento da polarização e da intolerância, da desinformação e das fake news, da qual as instituições democráticas e órgãos eleitorais acabaram virando alvo de ataques.
Vianello ressaltou que as mentiras políticas não são algo novo, mas assumiram um protagonismo perigoso no processo político e eleitoral de vários países nos quais as democracias representativas estão em crise.
“Precisamos reconhecer que as democracias eram mais frágeis do que pensávamos”, lamentou Vianello.
Apesar do momento delicado pelo qual passam as democracias representativas no Brasil e nas Américas, a mediadora Ana Claudia Santano, do Transparência Eleitoral Brasil, encerrou o Conexão Internacional ressaltando que precisamos, todos nós, defender a democracia.
“Não há mais tempo de fingir que não é com a gente o problema. Não há outro caminho, a democracia é o único caminho. Por mais imperfeitas que sejam, por mais problemas que possam apresentar, são elas que nos dão uma oportunidade; nem um outro regime político nos dará o que a democracia já nos deu”.